quarta-feira, 20 de julho de 2011

Daniel Pedro estreia nesta quinta com a peça Carnaval no novo teatro do Guará


Primeiro diretor a promover oficinas na cidade ainda nos anos 80, Daniel Pedro com 39 anos de teatro continua na militância cultural da cidade, produzindo saraus e estreando a temporada de espetáculos teatrais no novo Teatro do Guará

Baseado na inspiração que as mulheres provocam no poeta, surge
o novo espetáculo do ator, diretor, dramaturgo e poeta, Daniel Pedro.
Primeiro diretor a realizar oficinas de teatro e apresentações na Casa
de Cultura do Guará, Daniel é mais uma vez o pioneiro nessa nova fase da
cultura na comunidade: ele abre a sequência de espetáculos a serem apresentados
durante os meses de julho, agosto e setembro no novo Teatro do Guará. A estréia ocorre na próxima quinta-feira (21), e tem seções na sexta (22), seguindo nas próximas duas semanas. Outros grupos se apresentam até final de agosto deste ano, gratuitamente pelo projeto Alcatéia Cultural, realizado pela Associação Cultural Guararte.(veja Programação abaixo)

O paulista de Osasco, que chegou à Brasília vindo a reboque de uma paixão, nos anos 80,
comemora seus 39 anos na ribalta em grande estilo, com a temporada
do espetáculo Carnaval, uma micelânea de textos, poemas e canções de própria autoria
sobre o principal elemento de inspiração da maioria dos poetas: a mulher, seus amores,
conflitos e contradições. Daniel Pedro dirige e apresenta o monólogo Carnaval, seu espetáculo
que soa, segundo o próprio ator, como um louvor as musas inspiradoras dos poetas: as mulheres. Como em alas de escola de samba, os textos, canções e poemas de autoria de Daniel emocionam pela ilustração apaixonada, por vezes trágica, por vezes cômica das nuances que permeiam a alma feminina do ponto de vista do amante. Com pitadas de consciência social sobre a violência entre cônjuges obcecados e maridos assassinos, Daniel promete uma nova forma de interpretar, rediscutindo linguagens e apresentando resultados de anos de pesquisa nas artes cênicas. Um verdadeiro
carnaval, de emoções, contada em diferentes capítulos, reunindo textos e músicas como as alas de um desfile alegórico baseado no puxador e bailarino, Daniel Pedro. Imperdível

Veja fotos: http://www.facebook.com/media/set/?set=a.104158296349180.5327.100002650301492

Falta teatro, falta vida, falta norte
O artista define em poucas palavras o que representou o teatro para ele. "Não me imagino sem teatro,
não ganhei dinheiro com isto mas ganhei muita vida, ganhei norte", desabafou. Para ele, a época em que a Casa de Cultura foi praticamente desativada foi terrpivel, principamente entre os anos de 98 e 2006. Para ele, um sonho sempre foi maior. "Queria ter meu próprio teatro. Mas nunca conseguimos ter nem o da comunidade. A Casa de Cultura sempre foi maravilhosa, mas não ter a iluminação e um tablado é complicado. Fiz teatro de rua nos anos 80 em quase todas as praças do Guará, mas há coisas que só no teatro são possíveis. A readaptação do auditório para as funções teatrais são muito positivas. E ser eu quem inaugura essa nossa nova fase, está sendo demais",  disse otimista. Outros shows e saraus já foram realizados no teatro, mas as peças começam temporada com Daniel nesta quinta (21).

Daniel Pedro: história do teatro brasileiro e candango

O experimentado ator Daniel Pedro da Silva, conhecido no meio artístico como Daniel Pedro,
tem uma história que se confunde com a história da arte brasileira --e do DF especialmente. Sofrendo
de gagueira e extrema timidez na adolescência, o jovem Daniel procurou no ano de 1972, em sua cidade
natal Osasco (SP), meios de vencer suas limitações. "Era uma coisa patológica quase, eu não conseguia
namorar, arrumar emprego e falar com as pessoas. Precisava mudar aquela história", conta aos risos Daniel.

À época, ele entrou num curso de teatro amador com um diretor teatral de Osasco e começou a vencer
tais dificuldades. Ao fim do primeiro ano de oficinas, Daniel estreava sua primeira peça. Tamanha foi a evolução e a segurança sentida pelo ator, ainda sob influência dos ideais hippies de sua geração, que Daniel saiu em viagem pelo mundo. Viajou pela Espanha, Portugal, Chile, Argentina e vários estados brasileiros. Quando retornou, com muita história para contar, decidiu voltar ao teatro e passou a escrever seus próprios textos. Em 1977, cinco anos depois de conhecer o teatro, criava o primeiro grupo sob sua direção, o grupo Espelho, que se apresentava nas favelas, para metalúrgicos e escolas de samba da época, nos primórdios da Abertura Democrática no país.

Na ditadura
Viu inúmeros de seus textos, escritos enquanto dramaturgo, serem cortados e censurados pela ditadura.
"Sabíamos que muita coisa não passava, mas continuávamos apresentando e para minha alegria passei a viver de teatro", conta Pedro. Os textos de Daniel, sempre muito carregados das lutas da época, tinham também uma constante influência da luta feminista por igualdade, que naqueles anos crescia. Textos como O Diabo Feminista foram montados e remontados por diferentes grupos de atores. Daqueles textos também veio a montagem do solo Carnaval, apresentado nas próximas três semanas. Daniel conta como foram alguns momentos de glória
em seu trabalho.
"Em época de ditadura, qualquer militar que se aproximava de nossa oficinas assustava. Certo dia um Policial
Militar veio, fardado, me pedir para se matricular no grupo Espelho. Fiquei assustado, mas sabendo que quando
milicos queriam nos investigar vinham infiltrados, se fazendo de civis, aceitei. Aquele PM foi premiadíssimo
com um monólogo por mim escrito, por vários anos", disse o mestre.

No início dos anos 80, o ator passa a promover oficians teatrais para os metalúrgicos da região, pela aproximação
com lideranças sindicais da época. Até para o presidente Lula, à época presidente do sindicato dos metalúrgicos
no ABC paulista Daniel chegou a se apresentar.

Chegando a Capital
Já em meados de 1985, a paixão por uma atriz trouxe Daniel à força para o Distrito Federal. A moça era funcionária
de uma autarquia que se mudou para a capital, e mesmo dividido entre se manter em Osasco onde ele já era
reconhecido por seu trabalho, cedeu e veio até a capital, instalando-se justamente no Guará. "Temi que a moça
se matasse aqui na época. Ela estava sem referências, e, meu amor me trouxe para apoiá-la. Era um recomeço", define.

Ele não ficou parado. Soube da 1ª Mostra de Teatro Amador realizado pela Federação de Teatro Amador do DF (Fetadf),
com a atriz e namorada, dirigindo mais um de seus textos voltado para a questão feminina. Menos de um ano depois já
estava mobilizado com a Federação, tornando-se membro da diretoria. Rodou com espetáculos nos diversos teatros à
disposição naquele momento, Teatro Dulcina de Moraes, Teatro da Praça em Taguatinga e Escola Parque da 508 Sul.

Em 1989 ele acompanha mais um momento histórico para si na cidade que abraçou como sua, o Guará. A agente cultural
Sonia Dourado, junta-se com artistas da cidade e consegue autorização do governador da época para a criação da
Casa de Cultura do Guará, um prédio abandonado naquele momento. E junto com Sônia, Daniel Pedro cria a primeira
oficina de teatro da comunidade, o grupo teatral Boca de Cena, do qual inúmeros artistas surgem na cidade.

Com orgulho, o mestre observa como foram frutíferas suas iniciativas. "Até hoje há alunos meus daquela época
que continuam em suas carreiras e viraram grandes atores. Tive alunos que são educadores de cênicas na
Universidade de Brasília, outros como Jirlene Pascoal, que ainda me acompanha e hoje auxilia no figurino e direção
de mais este espetáculo em minha carreira. Isso é maravilhoso", conta Pedro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário